terça-feira, 11 de março de 2014

É sempre assim.

   Era duas da tarde de um domingo ensolarado, acabávamos de transar até nossos genitais doerem, me levantei e fui até a cozinha, enchi um copo com uísque barato e acendi um cigarro, nós havíamos colocado o colchão no chão da sala, e a única coisa que separava a cozinha da sala era um pequeno balcão, sendo assim eu conseguia olhar para ela ainda na cozinha, me debrucei sobre o balcão admirando-a, ela estava deitada de bruços, com um cigarro acesso na boca, ela era tão bela, todas as suas curvas.
   Ela se virou pra mim e disse:
   - O que foi?
   - Estou te admirando. - Eu falei e dei um trago.
   - Não fica me encarando, eu estou feia e suada. - Ela tentou cobrir o corpo com um lençol.
   Fui até ela e retirei o lençol, joguei o mais longe que pude, beijei-a nos lábios e me sentei no sofá ao lado do colchão.
   - Você esta linda. - Eu disse e dei mais um trago.
   silêncio.
   - Você é fofo. - Ela disse se virando pra mim novamente.
   - Por que?
   - Porque sim. - Ela continuou. - Te amo.
   - Tente se lembrar disso quando for me deixar. - Tomei do uísque.
   - Por que você esta falando isso?
   - Por que você não é a primeira a me dizer isso, e é óbvio que nenhuma se lembrou disso quando foi embora.
   - Mas eu não sou nenhuma delas.
   - Veremos. - Eu emborquei todo o uísque.
   Menos de um ano depois ela se foi... Como eu já sabia que aconteceria, ela não lembrou de ter dito que me amava... Como eu já sabia que aconteceria.

O belo decadente

   Eu sempre tive uma admiração profunda em tudo aquilo que é decadente, velho, abandonado. Sejam casa, velhos prédio, florestas, matas densas... Tudo aquilo que pra outras pessoas passa despercebido, pequenos detalhes da vida cotidiana.
   Lembro-me de quando ainda morava em Brasília, que sempre que eu pegava o metro sentido "Galeria", eu passava por uma ou duas estações abandonadas, todas as outras pessoas não se importavam, talvez quando elas as virem pela primeira vez, mas tornou-se algo comum no dia-a-dia elas, assim como o sol, a lua, as estrelas, eles estão ali, porém as pessoas perdem o interesse depois de um tempo, por vezes esse interesse pode voltar, mas não era o que acontecia comigo, eu estou sempre encantado por essas "pequenas" coisas.
   Sempre imaginei o que aconteceu lá, porque esta daquele jeito, sempre me imaginei ali, sentado, fumando um cigarro, com uma garrafa de algum vinho vagabundo observando todas aquelas vidas passando todos os dias, milhares de rostos cansados, rostos sem esperança de nada melhor. Era sempre bom pensar nisso.
   Aqui mesmo em Bragança existe um enorme prédio que sempre que passo por ele imagino as vidas que ali passaram, todas as histórias, romances, tragédias, lágrimas e risos que ali foram dados. O nome do prédio é Carrozo, mas ele é mais conhecido por um nome muito mais digno de seu status: "O belo parado", pois é isso que ele é, isso que ele sempre será em minha mente.
   Não estou nem um pouco afim de dizer como ele é, sua história nem nada disso, pois quero que desta forma, talvez, você possa imagina-lo e com toda a certeza, virá em sua cabeça a imagem de algum prédio abandonado que você conheça. Assim trará um pouco de fantasia para sua cabeça.
   Lembro-me de uma vez ter pulado lá com alguns amigos, cada um tinha um motivo por estar ali, curiosidade, sair da rotina, sentir-se vivo... Eu apenas me deixava fundir com suas paredes velhas e descascadas pelo tempo, todas as vidas passavam por mim, tudo acontecia, eu era o fantasma, eu era o intruso. Isso me deixava mais conectado com toda a vida ao meu redor, sempre quis saber de todas as histórias que ali aconteceram, sempre quis observar a tudo como um espectro, sem interferir, apenas olhar tudo acontecendo ao meu redor, através de mim.
   Acho que minha mente esta parada em algum universo paralelo em que as pequenas coisas tem um significado infinito. Um pássaro, uma pedra, uma árvore, todos eles são os grandes astros desse filme, eu sou o telespectador, observador, aquele que tenta ler seus mais sutis aspectos.
  Querem reformar o belo parado, não sou contra, menos ainda a favor, tiraram a beleza da decadência, do velho. Isso se chama progresso, Eliminar tudo o que é velho para o nascimento do novo, do "belo". Acabaram com o sentido de ficar ali, sentado em frente a ele e admira-lo por horas. Apenas refletindo sobre seus próprios demônios.
  honestamente, não sei como terminar esse texto com uma frase de reflexão, ou qualquer coisa do tipo.
   Acho que vou me sentar a frente do belo parado novamente, e admira-lo novamente, quem sabe quando o progresso irá arrancar a beleza na decadência. Na verdade talvez eu durma lá, não me acordem, quero morrer com "O Belo Decadente".

segunda-feira, 10 de março de 2014

Como tudo começa e termina.

   Lentamente a alma vai entregando os pontos, o fim é eminente e você pode até senti-lo, por muito tempo você luta desesperadamente para se agarrar ao que ainda resta, pensando ainda naquilo que poderia ser, sabendo, porém, que tudo que tens é um punhado de sonhos vazios, e talvez uma ou duas belas palavras.
   Afogar-se em um copo de uísque acaba se tornado de praxe, pois no fim é tudo o que tens, um copo de uísque e um cigarro, um punhado de memórias, e meia dúzia de merda na cabeça. As vezes tudo começa e acaba da mesma forma, com você sozinho, provavelmente bêbado, sem uma porra de centavo no bolso, pouca dignidade, e menos ainda, amor próprio.
   Vive-se acreditando que precisamos encontrar alguém pra sermos felizes, quando na realidade a felicidade esta ali dentro de nós, escondida por entre o desespero, a loucura, o tédio e a melancolia. Ela esta lá, mas as vezes precisamos de outras pessoas para percebermos que ela esta lá, e então percebemos que não precisamos da outra pessoa para sermos felizes.
   A solidão sempre me foi algo agradável, porém a ideia de ficar completamente só durante um certo período de tempo me enlouquece, sou como um cão, sarnento e fedido, vivo procurando alguém para me fazer sentir bem, companhia, um pouco de amor, isso é tudo. Quando sou finalmente chutado por algum motivo, fico só, e com sorte aparece alguém com novas promessas e sonhos.
   Sou extremamente patético se formos pensar bem, mas a melancolia, a derrota, a loucura e uma dose de solidão sempre me foram agradáveis, como velhas amigas, que volta e meia aparecem pra dizer "oi", porém uma coisa inconcebível pra mim sempre foi o desprezo, embora quando se trabalha em subempregos durante a vida, você acaba assumindo que ser desprezado é tão real e vivo quanto o câncer ou a depressão. O problema é quando se é desprezado por alguém que você costuma por em um pedestal, mas vamos ser sinceros, quem se importa? quem liga? tudo começa e acaba da mesma forma, você, sozinho, muitas vezes bêbado, sem um centavo no bolso, e menos ainda, amor próprio.

Devagando sobre apaixonar-se

     As palavras, quase sempre, saem disparadamente, e coração, essa víbora pulsante, destila teu doce veneno, nutrindo a ilusão, e matando a razão, faz do peito vazio tua toca, e nele, passava a viver da dor, da alegria, dos risos e das lágrimas. Os sentidos entorpecem, os sentidos adoecem, a alma, alimentada por palavras bonitas, fica frágil, torna-se tola. A mente endoidece, torna-se volátil, guarda e alimenta, o demônio do ciúmes. Faz parecer posse, aquilo que jamais nos pertenceu, levando-nos dessa forma ao suicídio do ser "único", para o nascimento do "conjunto".
    Que doentio é se apaixonar.

Conceitos I

Releio,
Revejo,
Repenso,
E ainda assim,
Percebo,
Que enfim,
Dizer "Te amo"
Nem sempre,
Significa "Amar".

                                                                               

domingo, 9 de março de 2014

Seguir em frente

    Engraçado, agora sentado do lado de fora da casa da minha mãe, fumando um cigarro, percebo o quão estranha e caótica foi minha relação com minha ex-mulher, começou intenso, teve momentos de puro caos e ódio ainda no começo, mas eu seguia em frente. Então vieram momentos de prazer e paixão, sentia que havia valido a pena seguir em frente. Houve momentos de dor e lágrimas, eu seguia em frente, sempre pareceu a coisa certa a se fazer, seguir em frente, não importava as dificuldade, e céus, houveram dezenas. Cada dia, algo novo a ter que superar, cada semana uma vontade enorme de manda-la a merda e seguir morando sozinho como eu fazia, mas por algum motivo eu seguia em frente, sei agora, que o motivo era óbvio - Eu não queria ficar só, a presença dela, por mais que me fizesse mal, eu já havia me acostumado com ela ali, me acostumado a ter alguém pra dormir comigo, acostumado a vê-la cozinhar enquanto eu tentava ajudar em algumas coisas, havia se tornado um rotina. Eu seguia em frente, segui em frente até não poder mais, segui em frente até não ter mais forças.
    Amadureci dez anos em um, a formula parecia fácil, seguir em frente, não importava o que, eu seguia em frente. Parece simples mesmo agora, mas não era, no fundo sei que não era, e quando o toque dela tornou-se frio, suas palavras tornaram-se sem vida, seu olhos perderam o brilho, e mesmo o sexo havia perdido a paixão, então eu havia percebido que não teria mais o porque segui em frente, não havia mas motivo, e mesmo agora, ainda tento seguir em frente... Vai por mim, o tempo não cura, apenas mascara a dor.

Vigio-me

Vigio-me para que minhas palavras,
Não traga mais lágrimas do que risos,
Mas se elas trouxerem as lagrimas,
Espero que estas sejam de alegria.

Vigio-me para que minhas atitudes,
Não magoem aqueles que amo,
Mas se elas vierem a magoa-los,
Espero ter tempo para me redimir.

Vigio-me para que meu medos,
Não venham a superar meus sonhos,
Mas se eles vierem a superar,
Espero não esquecer de sonhar,

Vigio-me para não deixar o ódio,
Não seja mais presente do que o amor,
Mas se acaso eu odiar mais,
Espero ainda, lembrar como é amar.

Vigio-me para que minhas escolhas,
Não venham a fazer com que eu me arrependa,
Mas se por ventura eu me arrepender,
Espero que eu possa ao menos aprender com elas.

Vigio-me para que minha vida,
Não acabe se tornando vazia e triste,
Pois se por algum motivo isso ocorrer,
Ai não terei mais tempo pra refaze-lá.